É a dificuldade em lidar com as emoções negativas que conduz os adolescentes a automutilarem-se. Não se trata de uma tentativa de suicídio, mas de uma manifestação de sofrimento. E, muitas vezes, um pedido de ajuda.
A adolescência é um período de mudança radical na vida de rapazes e raparigas. A causa primeira dessa mudança são as alterações que o corpo sofre em consequência da puberdade, perdendo as características infantis e ganhando contornos de adultos. Com a puberdade vem o despertar para a sexualidade. E um conjunto de emoções por vezes tão contraditórias que o adolescente vive como que numa montanha russa.
Lidar com esta idade não é fácil. Os adultos exercem pressão, os pares também. E o adolescente tem dificuldade em encontrar o seu lugar no mundo. Para alguns, a transição faz-se, no entanto, sem comportamentos limite, mas outros há que lidam com o tumulto emocional de uma forma arriscada. É o que acontece com os que se mutilam a si próprios, recorrendo a qualquer objecto afiado para se cortarem ou queimando-se com cigarros ou isqueiros.
Tudo serve quando o impulso desponta: uma faca, uma tesoura, uma agulha ou uma lâmina de barbear, até a ponta de um clip ou a argola de uma lata de refrigerante. Pode começar como um impulso, mas certo é que se transforma num comportamento repetitivo: quem se corta uma vez corta-se muitas mais. Sobretudo no tronco, braços e pernas, as regiões do corpo mais acessíveis mas também aquelas em que é mais fácil esconder as marcas.
Nem sempre há dor, mas a mutilação esconde emoções dolorosas. E quando há dor física, ela distrai da dor psicológica. A vantagem é que a dor física é concreta e visível e a psicológica demasiado abstracta para descrever e compreender.
São sobretudo os adolescentes que assim se mutilam, dada a volatilidade das emoções, os conflitos com os pais e outras figuras da autoridade e a urgência de pertencer ao grupo de pares. Todavia, também os adultos podem adoptar estes comportamentos. No que respeita às diferenças entre géneros, há uma ligeira predominância das raparigas, mas não é suficiente para se estabelecer um padrão.
Um hábito que pode conduzir ao suicídio.
A automutilação não é sinónimo de tentativa de suicídio, acontecendo com frequência sob a influência de álcool ou drogas. Mas é um comportamento de risco para uma acção mais deliberada no sentido de pôr termo à vida. E mesmo sem este desfecho, existe a possibilidade de complicações sérias. De infecções, se os cortes e demais feridas não forem bem tratados. De hemorragia, sobretudo se algum dos principais vasos sanguíneos for afectado, além de que podem ficar marcas permanentes no corpo.
A vergonha é um sentimento comum após o acto de mutilação. Depois da calma, é também comum que surja a culpa. A auto-estima fica ainda mais em baixo, o que não ajuda quem já se sente mal.
E porque os cortes aliviam a tensão, a automutilação pode tornar-se um hábito. O adolescente pode ficar como que viciado, dependente, a ela recorrendo sempre que emoções negativas o assaltam. O que acontece é que, sempre que a tensão aumenta, o cérebro reclama alívio e desencadeia o corte. É por isso que não é fácil pôr fim a este comportamento de risco.
Primeiro é preciso que o adolescente o reconheça. E ainda que cortar-se seja uma chamada de atenção, a primeira preocupação é esconder os vestígios, normalmente através do vestuário. Mas, eventualmente, o adolescente é descoberto. Começa por negar, atribuindo as marcas a acidentes. Há alguns, porém, que as exibem deliberadamente.
É igualmente possível que acabe por desabafar com alguém. E fá-lo porque precisa de ser compreendido e precisa de ajuda para deixar de se magoar. É preciso coragem e confiança para dar este passo, porque a primeira reacção dos outros pode ser de desapontamento, choque, raiva, rejeição, julgamento.
Partilhar o problema pode ser meio caminho andado para a solução. Mas abandonar o comportamento de risco pode não acontecer de um dia para o outro, sobretudo se estiver associado a um problema do foro neurológico como a depressão.
Alguns adolescentes encontram uma razão forte para deixarem de se mutilar, encontram escapes mais saudáveis para lidar com as emoções. Mas é preciso tempo e, por vezes, ajuda profissional. Entre os medicamentos (por exemplo com anti-depressivos) e a psicoterapia é possível ver luz ao fundo do túnel.
Um adolescente que se corta tende a esconder as marcas deste comportamento. Pode não ser fácil identificar o problema, mas é preciso estar atento se o adolescente:
*Exibe marcas de cortes ou queimaduras;
*Apresenta novas feridas;
*Afirma sofrer acidentes frequentes;
*Anda sempre com objectos afiados à mão;
*Usa roupa com mangas compridas mesmo nos dias mais quentes;
*Ter problemas relacionais e dificuldade em gerir as suas emoções.
Perante a suspeita, o passo seguinte pode ser confrontar o adolescente. Mas com calma, sem julgamentos, ameaças ou acusações. Mostrando compreensão e oferecendo apoio para superar este momento difícil. Um momento que, naturalmente, assusta os pais mas que acontece porque os filhos estão, eles próprios, assustados.
Retirado de : http://www.anf.pt/index2.php?option=com_content&do_pdf=1&id=978
A adolescência é um período de mudança radical na vida de rapazes e raparigas. A causa primeira dessa mudança são as alterações que o corpo sofre em consequência da puberdade, perdendo as características infantis e ganhando contornos de adultos. Com a puberdade vem o despertar para a sexualidade. E um conjunto de emoções por vezes tão contraditórias que o adolescente vive como que numa montanha russa.
Lidar com esta idade não é fácil. Os adultos exercem pressão, os pares também. E o adolescente tem dificuldade em encontrar o seu lugar no mundo. Para alguns, a transição faz-se, no entanto, sem comportamentos limite, mas outros há que lidam com o tumulto emocional de uma forma arriscada. É o que acontece com os que se mutilam a si próprios, recorrendo a qualquer objecto afiado para se cortarem ou queimando-se com cigarros ou isqueiros.
Tudo serve quando o impulso desponta: uma faca, uma tesoura, uma agulha ou uma lâmina de barbear, até a ponta de um clip ou a argola de uma lata de refrigerante. Pode começar como um impulso, mas certo é que se transforma num comportamento repetitivo: quem se corta uma vez corta-se muitas mais. Sobretudo no tronco, braços e pernas, as regiões do corpo mais acessíveis mas também aquelas em que é mais fácil esconder as marcas.
Nem sempre há dor, mas a mutilação esconde emoções dolorosas. E quando há dor física, ela distrai da dor psicológica. A vantagem é que a dor física é concreta e visível e a psicológica demasiado abstracta para descrever e compreender.
São sobretudo os adolescentes que assim se mutilam, dada a volatilidade das emoções, os conflitos com os pais e outras figuras da autoridade e a urgência de pertencer ao grupo de pares. Todavia, também os adultos podem adoptar estes comportamentos. No que respeita às diferenças entre géneros, há uma ligeira predominância das raparigas, mas não é suficiente para se estabelecer um padrão.
Um hábito que pode conduzir ao suicídio.
A automutilação não é sinónimo de tentativa de suicídio, acontecendo com frequência sob a influência de álcool ou drogas. Mas é um comportamento de risco para uma acção mais deliberada no sentido de pôr termo à vida. E mesmo sem este desfecho, existe a possibilidade de complicações sérias. De infecções, se os cortes e demais feridas não forem bem tratados. De hemorragia, sobretudo se algum dos principais vasos sanguíneos for afectado, além de que podem ficar marcas permanentes no corpo.
A vergonha é um sentimento comum após o acto de mutilação. Depois da calma, é também comum que surja a culpa. A auto-estima fica ainda mais em baixo, o que não ajuda quem já se sente mal.
E porque os cortes aliviam a tensão, a automutilação pode tornar-se um hábito. O adolescente pode ficar como que viciado, dependente, a ela recorrendo sempre que emoções negativas o assaltam. O que acontece é que, sempre que a tensão aumenta, o cérebro reclama alívio e desencadeia o corte. É por isso que não é fácil pôr fim a este comportamento de risco.
Primeiro é preciso que o adolescente o reconheça. E ainda que cortar-se seja uma chamada de atenção, a primeira preocupação é esconder os vestígios, normalmente através do vestuário. Mas, eventualmente, o adolescente é descoberto. Começa por negar, atribuindo as marcas a acidentes. Há alguns, porém, que as exibem deliberadamente.
Aprender a lidar com as emoções
É igualmente possível que acabe por desabafar com alguém. E fá-lo porque precisa de ser compreendido e precisa de ajuda para deixar de se magoar. É preciso coragem e confiança para dar este passo, porque a primeira reacção dos outros pode ser de desapontamento, choque, raiva, rejeição, julgamento.
Partilhar o problema pode ser meio caminho andado para a solução. Mas abandonar o comportamento de risco pode não acontecer de um dia para o outro, sobretudo se estiver associado a um problema do foro neurológico como a depressão.
Alguns adolescentes encontram uma razão forte para deixarem de se mutilar, encontram escapes mais saudáveis para lidar com as emoções. Mas é preciso tempo e, por vezes, ajuda profissional. Entre os medicamentos (por exemplo com anti-depressivos) e a psicoterapia é possível ver luz ao fundo do túnel.
Sinais de alerta
Um adolescente que se corta tende a esconder as marcas deste comportamento. Pode não ser fácil identificar o problema, mas é preciso estar atento se o adolescente:
*Exibe marcas de cortes ou queimaduras;
*Apresenta novas feridas;
*Afirma sofrer acidentes frequentes;
*Anda sempre com objectos afiados à mão;
*Usa roupa com mangas compridas mesmo nos dias mais quentes;
*Ter problemas relacionais e dificuldade em gerir as suas emoções.
Perante a suspeita, o passo seguinte pode ser confrontar o adolescente. Mas com calma, sem julgamentos, ameaças ou acusações. Mostrando compreensão e oferecendo apoio para superar este momento difícil. Um momento que, naturalmente, assusta os pais mas que acontece porque os filhos estão, eles próprios, assustados.
Retirado de : http://www.anf.pt/index2.php?option=com_content&do_pdf=1&id=978