quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Corte nas Emoções

É a dificuldade em lidar com as emoções negativas que conduz os adolescentes a automutilarem-se. Não se trata de uma tentativa de suicídio, mas de uma manifestação de sofrimento. E, muitas vezes, um pedido de ajuda.
A adolescência é um período de mudança radical na vida de rapazes e raparigas. A causa primeira dessa mudança são as alterações que o corpo sofre em consequência da puberdade, perdendo as características infantis e ganhando contornos de adultos. Com a puberdade vem o despertar para a sexualidade. E um conjunto de emoções por vezes tão contraditórias que o adolescente vive como que numa montanha russa.
Lidar com esta idade não é fácil. Os adultos exercem pressão, os pares também. E o adolescente tem dificuldade em encontrar o seu lugar no mundo. Para alguns, a transição faz-se, no entanto, sem comportamentos limite, mas outros há que lidam com o tumulto emocional de uma forma arriscada. É o que acontece com os que se mutilam a si próprios, recorrendo a qualquer objecto afiado para se cortarem ou queimando-se com cigarros ou isqueiros.
Tudo serve quando o impulso desponta: uma faca, uma tesoura, uma agulha ou uma lâmina de barbear, até a ponta de um clip ou a argola de uma lata de refrigerante. Pode começar como um impulso, mas certo é que se transforma num comportamento repetitivo: quem se corta uma vez corta-se muitas mais. Sobretudo no tronco, braços e pernas, as regiões do corpo mais acessíveis mas também aquelas em que é mais fácil esconder as marcas.
Nem sempre há dor, mas a mutilação esconde emoções dolorosas. E quando há dor física, ela distrai da dor psicológica. A vantagem é que a dor física é concreta e visível e a psicológica demasiado abstracta para descrever e compreender.
São sobretudo os adolescentes que assim se mutilam, dada a volatilidade das emoções, os conflitos com os pais e outras figuras da autoridade e a urgência de pertencer ao grupo de pares. Todavia, também os adultos podem adoptar estes comportamentos. No que respeita às diferenças entre géneros, há uma ligeira predominância das raparigas, mas não é suficiente para se estabelecer um padrão.
Um hábito que pode conduzir ao suicídio.

A automutilação não é sinónimo de tentativa de suicídio, acontecendo com frequência sob a influência de álcool ou drogas. Mas é um comportamento de risco para uma acção mais deliberada no sentido de pôr termo à vida. E mesmo sem este desfecho, existe a possibilidade de complicações sérias. De infecções, se os cortes e demais feridas não forem bem tratados. De hemorragia, sobretudo se algum dos principais vasos sanguíneos for afectado, além de que podem ficar marcas permanentes no corpo.
A vergonha é um sentimento comum após o acto de mutilação. Depois da calma, é também comum que surja a culpa. A auto-estima fica ainda mais em baixo, o que não ajuda quem já se sente mal.
E porque os cortes aliviam a tensão, a automutilação pode tornar-se um hábito. O adolescente pode ficar como que viciado, dependente, a ela recorrendo sempre que emoções negativas o assaltam. O que acontece é que, sempre que a tensão aumenta, o cérebro reclama alívio e desencadeia o corte. É por isso que não é fácil pôr fim a este comportamento de risco.

Primeiro é preciso que o adolescente o reconheça. E ainda que cortar-se seja uma chamada de atenção, a primeira preocupação é esconder os vestígios, normalmente através do vestuário. Mas, eventualmente, o adolescente é descoberto. Começa por negar, atribuindo as marcas a acidentes. Há alguns, porém, que as exibem deliberadamente.


Aprender a lidar com as emoções

É igualmente possível que acabe por desabafar com alguém. E fá-lo porque precisa de ser compreendido e precisa de ajuda para deixar de se magoar. É preciso coragem e confiança para dar este passo, porque a primeira reacção dos outros pode ser de desapontamento, choque, raiva, rejeição, julgamento.
Partilhar o problema pode ser meio caminho andado para a solução. Mas abandonar o comportamento de risco pode não acontecer de um dia para o outro, sobretudo se estiver associado a um problema do foro neurológico como a depressão.
Alguns adolescentes encontram uma razão forte para deixarem de se mutilar, encontram escapes mais saudáveis para lidar com as emoções. Mas é preciso tempo e, por vezes, ajuda profissional. Entre os medicamentos (por exemplo com anti-depressivos) e a psicoterapia é possível ver luz ao fundo do túnel.

Sinais de alerta

Um adolescente que se corta tende a esconder as marcas deste comportamento. Pode não ser fácil identificar o problema, mas é preciso estar atento se o adolescente:

*Exibe marcas de cortes ou queimaduras;
*Apresenta novas feridas;
*Afirma sofrer acidentes frequentes;
*Anda sempre com objectos afiados à mão;
*Usa roupa com mangas compridas mesmo nos dias mais quentes;
*Ter problemas relacionais e dificuldade em gerir as suas emoções.

Perante a suspeita, o passo seguinte pode ser confrontar o adolescente. Mas com calma, sem julgamentos, ameaças ou acusações. Mostrando compreensão e oferecendo apoio para superar este momento difícil. Um momento que, naturalmente, assusta os pais mas que acontece porque os filhos estão, eles próprios, assustados.

Retirado de : http://www.anf.pt/index2.php?option=com_content&do_pdf=1&id=978

9 comentários:

  1. Concordo contigo rui, mas consigo perceber porque é que isto acontece. Provavelmente são pessoas com problemas fna sua vida , como quase toda a gente tem, mas que não sabem como lidar com eles, não procuram ajudam porque secalhar não se apercebem de que realmente necessitam, e acabam por castigar se a si próprios desta maneira pelo que sentem ou pela situação que estão a passar. Basicamente é como se fosse um escape á realidade que enfrentam diariamente, um escape como o alcool e as drogas.
    Mariana Capucho

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  2. Por mais problemas que uma pessoa tenha, não deve querer acabar com a vida seja lá de que maneira for.Mas enfim...
    O problema da auto-mutilação, é um problema que acaba por ser descoberto, geralmente, um pouco tarde.
    Porque são problemas que não são tão fáceis de esconder como a anorexia, bulimia , ... Mas também pode ser difícil de detectar.
    O que podemos fazer? comunicar não chega!!!
    Rita F. 10ºA

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  3. eu sei que nao justifica, mas estava a tentar ver o lado das pessoas que o fazem. As vezes as pessoas criticam,julgam e dizem que está mal, sem sequer tentar compreender, eu compreendo, embora nao esteja correto, compreendo as razoes que levam as pessoas a praticar isto.
    Mariana Capucho

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  4. Concordo com o rui, pois estes casos de automutilação são casos muito sérios e complicados. Pelo que eu percebi parece que começa a ser como que um vício, pois no momento em que se cortam e depois, esquecem os problemas e isso agrada-lhes, mas não é a melhor forma para se sentirem bem com eles próprios. Muitas destas pessoas devem ser um pouco sociáveis não tendo assim amigos em que confiem para desabafar há vontade, e como todos sabemos a maioria dos adolescentes não se sentem á vontade para falar com os pais. Alguns de nós tem irmãos mais velhos ou mais novos em quem podemos contar tudo e desabafar á vontade tudo o que nos esta a confundir ou a fazer mal na nossa cabeça. Quem não tem amigos que se sinta confiança para contar tudo, não tenha irmãos ou simplesmente não goste de falar com eles e não gosta de falar com os pais sobre certos assuntos pode ser recorrer á ajuda de uma psicóloga, pois não é vergonha nenhuma pelo contrário, sabe bem termos alguém em quem podemos disser tudo á vontade. Há adolescentes que pensam “as psicólogas são para os malucos”, mas estão muito enganados, as psicólogas (os) são para toda a gente pois eles podem-nos ajudar e nem precisam de falar com ela (e) podem perfeitamente chegar lá e simplesmente chorar ou então não disser nada, desde que se sintam bem com vocês mesmos!
    Rita Ramalho 10ºB

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  5. Boa noite,
    Concordo deste já com a Rita R e com o Rui R, e queria aqui salientar que me choca de alguma forma a parte prática da questão. De alguma forma, estes jovens arranjam coragem para se automutilarem uma vez, mas onde vão eles buscar coragem para tornar disto um vício?? Também a parte psico-social tem uma influencia enorme na questão. Pessoas cuja vida social está de parte ou por algum motivo, as marcou negativamente, conseguem fazer da automutilação uma forma de esquecer os problemas.
    Não deixa por isso de ser uma falta de sanidade mental das pessoas que cometem estes atos, sem pensar nas consequencias que lhe podem vir a trazer.

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  6. Acho que uma pessoa não devia tentar acabar com a vida ou "estraga-la" por ter muitos problemas, sejam eles muito graves ou não. Os problemas tem sempre solução, por vezes não tem soluções imediatas, mas tem. Temos de pensar sempre positivo e nunca pensar que a única solução que existe é acabar com a vida.

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  7. Mas será isto uma MODA dos Adolescentes?

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  8. Não, é apenas uma forma de esquecer alguns problemas, não é muito comum!

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  9. Penso que "ainda" não é uma moda, mas pode vir a sê-lo se não tentarmos ajudar e compreender os jovens que se encontram neste tipo de situações.
    Por vezes não nos apercebemos de que os problemas de uns adolescentes são mais graves do que os de outros, pois tornamo-los insignificantes quando comparados com os nossos próprios problemas.
    Concordo com o Rui Rita quando ele diz que "é apenas uma forma de esquecer alguns problemas". Mas se "esta forma" para esquecer resultar, há sempre que siga esses mesmos passos...
    Isto é mais uma prova de que devemos pensar e ajudar os outros, para que não cometam erros destes.

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